A catarinense Mara Rejane Klein Arruda conta as mudanças que o diagnóstico de câncer gerou em sua vida enquanto se planejava para trabalhar fora do Brasil

Uma jovem cheia de planos e ansiosa para realizar um grande sonho profissional: trabalhar em uma grande empresa no exterior. Aos 34 anos, a moradora de Itajaí (SC) Mara Rejane Klein Arruda descobriu um câncer e teve de repensar não só seus objetivos de carreira, como analisar sua vida e emoções. Nesta entrevista ela conta como foi ter passado pelo processo de tratamento e cura da doença.

Como você define o momento de vida em que estava antes de descobrir o câncer?

Eu havia recebido a proposta de ir trabalhar fora do Brasil. O objetivo era assumir a responsabilidade de gerenciar o processo logístico de uma empresa multinacional na Holanda. Foi um momento incrível para mim pois passei muito tempo construindo este caminho e então, ele havia finalmente se concretizado. Estava imensamente feliz e totalmente focada na minha mudança completa de vida que imaginava que estaria por vir.

Inicialmente, passei 40 dias na Holanda para compreender como seria o trabalho e a minha nova rotina, em seguida voltei para o Brasil para organizar tudo.

E em que momento se deu o diagnóstico?

Em março de 2014, antes de ir para a Holanda, havia percebido um pequeno nódulo na mama esquerda. Como naquele momento este não era o foco, achei que não merecia a devida importância. Além disso, como eu costumava ir ao ginecologista e fazer todos os meus exames, incluindo ultrassonografia de mama, para mim estava tudo ok. O último exame que fiz foi em novembro de 2013.

No entanto, por insistência de uma amiga que estava fazendo tratamento de câncer, logo depois que retornei da viagem fui verificar mais a fundo o que poderia ser este nódulo. Depois de vários exames, chegamos ao diagnóstico de câncer.

Como foram os meses seguintes?

Minha reação inicial foi “ok, vamos tratá-lo pois tenho que ir para a Holanda!”. Então, fiz cirurgia para retirada total do tumor e esvaziamento de linfonodos. Passado o período pós-operatório, fui ao oncologista na certeza de que teria alta e poderia seguir com meu plano profissional.

Mas logo que verificou o laudo do tipo de tumor, minha médica imediatamente sinalizou que eu deveria seguir para um período de quimioterapia e, provavelmente, radioterapia. Este foi o momento que meu chão se abriu e eu cheguei a perder os sentidos. Não conseguia me equilibrar nem imaginar o que seria da minha vida. O que faria com toda a organização do meu projeto profissional?

Minha médica reforçou que o tratamento deveria ser começado imediatamente e que de fato o meu trabalho na Holanda teria de ficar para mais tarde.

Eu fiz o tratamento completo e não foi fácil, mas conquistei a cura. E o melhor, quando falo que estou curada, não é somente do câncer. Pois esta doença vem para nos fazer avaliar muita coisa e por isso considero que tive várias outras curas neste período. Algumas dores nunca curadas antes, angústias e mágoas mal resolvidas também desapareceram.

Quem foram os seus principais apoiadores neste período?

O que me fortaleceu e sempre me fortalece são meus familiares e amigos. Sou uma pessoa que acredita muito na força que o amor é capaz de fazer, acredito muito na fé das pessoas que amo e que me amam. Acredito muito na força da energia positiva e da energia do bem.

O que o câncer mudou na sua vida?

Particularmente, não acho que passar por esta doença nos dê algum mérito. Muitos me dizem que sou uma guerreira, mas entendo que devemos sempre encarar os novos momentos que a vida nos presenteia, bons ou ruins, grandes ou pequenos, com a maior garra que pudermos ter. Lembro-me do dia em que a médica me falou que eu teria que fazer quimioterapia, ou seja, que eu não poderia mais ir morar na Holanda e precisaria parar de trabalhar para fazer o tratamento.

Muitos podem achar isso de certa forma bom, afinal, eu poderia ficar em casa, descansar…. Mas isso me causou um pânico, pois não sabia como lidar com este novo momento. E me perguntava: “Ficar em casa, eu? Sem fazer nada? Cuidando só de mim? Que absurdo!”.

E para isto também é preciso ter garra, pois é preciso enxergar o que Deus coloca em nossas vidas, aprender a ter paciência e também a deixar de ser egoísta. É preciso permitir a cura de verdade, evitando assim maiores sofrimentos.

Poderia dizer que houve um aprendizado? Qual?

Acho que aprendi algumas coisas, mas é muito importante dizer que não precisamos de uma doença como esta, de um sofrimento destes para parar e pedir desculpas, pedir perdão, oferecer o perdão. Não precisa disso tudo para dizermos o quanto alguém é importante em nossas vidas, o quanto os amigos, primos, irmãos e família nos fazem tão bem. Para percebermos o quanto é bom comemorar o encontro com amigos em um café no meio da tarde. Para enxergarmos o quanto é bom inventar um almoço sem motivo definido e o quanto é gostoso irmos tomar um chimarrão na casa da amiga ou simplesmente jogar conversa fora.

Por enquanto, os planos de ir para a Holanda foram adiados, pois tenho necessidade de ter um acompanhamento médico por um período. Mas sou muito grata por tudo e hoje sou imensamente feliz!

 

Fonte: https://quemcuida.com.br/blog/como-reorganizei-minha-vida-apos-descoberta-do-cancer/