"A minha vida não é sofrimento!", diz a Advogada Maria Paula com câncer de mama
Era abril de 2011. Eu tinha 24 anos, 6 meses de casada e um monte de planos praquele ano. Dali a 2 anos eu me enxergava servidora pública e pronta para ter filhos.
Minha irmã, fisioterapeuta, havia feito um curso de RPG e quis me fazer de cobaia. Numa manobra eu senti uma dor estranha, uma dor que, segundo ela, não era para sentir. Aí ela palpou um carocinho do tamanho de um grão de feijão na minha mama direita. No outro dia eu estava na clínica para fazer uma ultrassonografia das mamas; havia mesmo um nódulo e a carinha dele não era amigável.
Começou, então, a maratona: ginecologista, mastologista, radiologista, patologista. Me descobri com câncer de mama. Nem no meu pior pesadelo eu podia imaginar aquela sensação. Por que eu? Por que naquele momento? Não havia histórico da doença na minha família, eu não era obesa, não possuía vícios, fui atleta a vida inteira, ia aos médicos regularmente.
Mas não havia tempo para questionamentos! Era preciso agir, correr contra o tempo! Quatro dias após o diagnóstico eu já estava na sala de cirurgia, foi feita uma quadrantectomia (uma cirurgia que conserva as mamas e retira o tumor e uma margem de segurança). Menos de um mês depois comecei a quimioterapia, que foi seguida por radioterapia e hormonoterapia.
E eu estou aqui! Mais de cinco anos depois, eu estou aqui!
Em janeiro de 2016, quando o meu médico iria me liberar para engravidar, uma ultrassonografia acusou um nódulo no ovário. E dali alguns dias, um novo diagnóstico: câncer de mama metastático. A doença havia voltado no meu ovário esquerdo, no fígado, na pleura, nos ossos e nos linfonodos do mediastino. Apesar de bem espalhada, eram pequenos focos da doença. Parecia uma pegadinha!!! Eu! De novo, eu!
Mas se é pra enfrentar o mundo, eu enfrento. Não perco nenhuma guerra sem dar o meu máximo.
O segundo diagnóstico veio como um despertar! Nós só temos o hoje! O passado não pode ser modificado e o futuro a gente não sabe se chegará.
A batalha recomeçou em janeiro de 2016 e agora não tem data pra terminar, a medicina não fala mais em cura, mas em controle.
Fiz uma nova cirurgia, dessa vez para retirar os ovários e enfrentei a quimioterapia mais uma vez.
E aqueles sonhos lá de 2011? E a maternidade??
Bom, eu tive que transformá-los! A minha ideia era engravidar, era ter dois ou três filhos que tivessem meus traços e do meu marido.
Quando retirei os ovários pensei que a maternidade para mim tinha virado uma impossibilidade, me senti até menos mulher por causa disso. Mas aí vi que minha infertilidade física tornou fecundo o meu coração.
Nove sessões de quimioterapia depois me vi mãe da esperança. Apesar do diagnóstico, eu procuro (e consigo!) levar a vida o mais normal possível. E, assim, consegui enxergar a beleza da maternidade do coração. Os sonhos foram adiados, mas continuam ali, no plano do querer muito! A minha vida não é sofrimento!
Eu escolhi ser feliz! Escolhi viver feliz a minha história, que é bem diferente da maioria das mulheres que eu conheço, mas que não me faz triste. Eu me sinto no dever de convocar todas as mulheres a se cuidarem! Façam o autoexame das mamas logo após a menstruação, visitem seus médicos regularmente (ao menos uma vez ao ano) e não deixem de fazer os exames (ultrassonografia e mamografia) periodicamente. O diagnóstico precoce é o segredo para a cura e para uma vida (quase) normal!
Fonte: http://consorcioconiape.pe.gov.br/?p=1389