O câncer de mama já estava na família, mas ela o venceu

Veja o relato da Ana Cláudia, uma dentista carioca de 50 anos, sobre como foi descobrir, passar e vencer o câncer de mama.

Como recebeu a notícia de que estava com câncer?

Foi há três anos, eu estava com 47 anos e vivendo plenamente, cuidando dos meus filhos, trabalhando em uma profissão que amo, fazendo diariamente minhas corridas de 8km, namorando… Quando minha médica ginecologista, num exame de rotina, identificou um nódulo na mama esquerda e me orientou a fazer uma biópsia. Demorei três meses até tomar coragem de fazer o exame, com medo do resultado – o que hoje eu sei que foi um grande erro da minha parte, pois quanto antes iniciamos o tratamento, maior é a chance de cura.

E como sua família encarou a notícia?

Na minha família houve outros casos de câncer de mama – minha mãe e uma tia – e, portanto, eu fazia parte do grupo de risco. Desde os 40 anos, realizava anualmente exames de mamografia e ultrassonografia. Com o resultado positivo nas mãos, fui para casa conversar com os meus filhos e planejar como enfrentar o temporal. Uma das primeiras coisas que pensei, sinceramente, foi em terminar o namoro, pois além de ter mais tempo para ficar com meus filhos, sem um outro olhar sobre o meu corpo, ficaria mais fácil de encarar o tratamento. Mas meus filhos sabiamente me alertaram de que justamente naquele momento eu precisava de amor e que eu não terminasse de jeito nenhum. Nesse dia vi meus filhos amadurecerem em questão de segundos bem ali na minha frente.

 

Qual foi o momento mais difícil do tratamento?

O momento mais difícil é o do desconhecido. As horas que passei com meus próprios pensamentos, momentos de dúvidas, sobre como ficaria após a cirurgia, se os cabelos iam cair durante a quimioterapia ou até mesmo de quanto tempo ainda teria de vida e o que ainda precisava fazer antes de partir.

De onde tirou forças para seguir a luta?

Durante o tratamento, com os cuidados e informações de toda a equipe médica, os pensamentos duvidosos vão dando lugar a uma determinação em direção à cura. Já que tinha de passar por isso, escolhi dar um bom exemplo aos meus filhos. Sem o suporte espiritual, físico e financeiro da família e de amigos queridos, eu não teria, apesar de tudo, boas lembranças de um momento muito difícil e delicado. Eles iam me visitar ou telefonavam sempre com uma palavra de carinho e força, e ainda ajudaram a pagar as contas nos cinco meses em que fiquei sem trabalhar! Parei de pensar no amanhã e comecei a viver o hoje, com Deus no controle.

Como encarou a questão da vaidade?

Li num livro do filósofo Nietzsche, uma frase que me chamou atenção e nunca mais esqueci. Ela diz: “a vaidade é a pele da alma”. Assim como, sem a pele, nossos órgãos ficariam expostos e não conseguiríamos nos olhar, sem a vaidade, nossos sentimentos bons ou ruins também ficam expostos, e a vaidade serve como um filtro para o nosso comportamento. Talvez seja isso que uma mulher com câncer de mama sinta, uma exposição sem filtro. Ter um órgão ligado à sua feminilidade alterado, seus cabelos deixando de definir o seu rosto e tendo de lidar com a vaidade de uma maneira tão diferente com um lenço, com novos cabelos, com um novo modelo de sutiã ou biquíni, com uma prótese ou duas… Felizmente, não precisei tirar toda a mama e, como meu tumor foi detectado no início, não fiz quimio, só radioterapia. Por cinco anos tenho de fazer um tratamento de hormonioterapia e visitar o médico oncologista com frequência. Mas quando vou lá, faço questão de ir bem bonita.

O que você pode dizer a outras mulheres que estão enfrentando a mesma doença?

Um amigo me apresentou um versículo bíblico (Isaias 43:2) que me deu muita força e eu repetia para os meus pensamentos negativos: “Quando passares pelas águas, Eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando caminhares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti”. Portanto, querida parceira e amiga do peito, quando olhar para a cicatriz no seu seio, não veja doença, veja o fechamento de uma etapa, a possibilidade de cura. Ganhamos uma marca nova, uma tatuagem de alguém que passou pela vida.

 

Fonte: https://vejario.abril.com.br/cidades/historias-de-mulheres-que-venceram-o-cancer-de-mama/